Monday, January 30, 2006

UnB

Realmente, passar na UnB não é fácil. E uma vez aprovado, ainda tem os testes não divulgados, que são os de bravura. Dizem que um deles é o RU. Nome científico: Restaurante da Universidade. Nomenclatura popular: “RUim”, “rootz”, “morte lenta” e “RU!!”, imitando a onomatopéia de movimentos peristálticos contrários e por que não dizer, revoltos. Pra mim, sinceramente, tudo que dizem sobre o RU é exagero com exceção da lingüiça e da almôndega. Claro que quando digo isso no CA de música sou expulso a empurrões, protestos e golpes de arco do último violinista que comeu lá. Mas não me intimido. O RU é para os fortes. Só os fortes sobrevivem ao RU. E morando sozinho, dou graças a Deus que ele existe.
Pelo papel higiênico dos banheiros deve-se agradecer mais ainda, já que sua existência não é muito freqüente. Dizem que há a verba para a compra de produtos como o papel dos banheiros, há o pedido dos produtos, há a confirmação da chegada deles, mas ninguém sabe pra onde vão todos esses papéis higiênicos perdidos. Enfim, alguém deve receber mensalão em rolos.
Na UnB há uma matéria obrigatória para todos os cursos: a greve. Todo mundo acaba fazendo pelo menos “greve-1” mas a maioria acaba passando por “greve-2” e até mesmo greves 3 e 4, dependendo do curso e dos anos que têm copa do mundo. Greve é uma matéria difícil que sempre acaba atrapalhando o desenvolvimento das outras. Uma característica peculiar é ser uma matéria completamente empírica e por isso nunca ninguém está suficientemente preparado para ela.
Descrevendo um pouco da UnB eu vejo como sou fácil de conquistar. Mais um daqueles calouros com assunto novo, falando sobre o que os veteranos já não agüentam mais saber. Imagino que o encanto de calouro vá desaparecer com o tempo mas por agora me deparo com idéias para propagandas: “Não é a UnB que conquista o universitário mas o universitário que conquista a UnB”; “UnB: a única universidade com horários flexíveis para torcedores da seleção” ou ainda, “Hoje em dia, no mercado de trabalho é preciso ter estômago forte. Na UnB, também. UnB: porque só os fortes sobrevivem.”

Do corpo

Quando se esquece
a rotina do dia
das mais urgentes etcétaras
das mais curtas reticências
no tempo que se segue
onde nada é loucura
e tampouco consciência
aí é fácil descrever
a beleza do corpo.

Saturday, January 14, 2006

O que passa

A partir das palavras
São muitas
E elas não viajam até lá
Durante as horas
São todas
E elas não são ainda
Nem já
Quando chegam as despedidas
São poucas
E elas não se acabam
Até a saudade
Passar.

Da coerência ao sofisma


Era uma distração. Talvez um hobby, não importa. Juro que não fazia de propósito. Era muitas vezes condenável, mas era também um vício que me tomava por completo e o riso mental era prazer inevitável. Se eu parava, sofria algumas crises de abstinência, começava a só falar de futebol. Aquilo era minha válvula de escape, era como um ensaio da minha tese de mestrado, capítulo um: “Da coerência ao sofisma” da grande obra “Sarcasmos e Ironias”, autoria de… “mim”. Ou talvez fosse apenas algumas posturas irônicas e egoístas que eu tomava que me rendiam histórias. Uma delas foi com uma amiga, Marcela.
Lá pelas sete de um dia escuro, estava eu conversando no ônibus na volta pra casa de todas as quartas-feiras. Eis que senão quando, depois de um dado silêncio, indaguei-me sobre o que era isso. Algo como, “Ah meu Deus, o que é isso?”. Marcela disse que, assim, desse jeito, sem nada, não dava. Sonolenta perguntou:
- Como assim, “isso”? Isso o quê??
O isso era o que, no meu pensamento, fazia a frase ter sentido. Além do que, a pergunta tinha sido feita para Deus. E só porque eu havia dito algo, não significava que era o começo de um assunto. Mas nós humanos não somos trivialmente originais. Menos ainda com o cansaço do dia nas costas e a pressa que, por instinto suponho, temos de chegar no chamado lar, nem sempre tão doce quanto costumamos dizer. Respondi:
- Ora, o “isso” é, sei lá Marcela, tudo né?
- Mas como, “tudo”? Tudo o quê, meu Deus?
Por uma questão de princípios eu não deveria responder à pergunta, mas pensando em manter o mínimo da inter-relação social e considerando que minha primeira pergunta já havia sido recebida pelo interlocutor errado, aquilo tudo era só mais um de muitos dos equívocos inofensivos por aí.
- Tudo o que “tudo” pode ser é o que, obviamente, é tudo.
- Ou seja, tudo o que tudo é, é o que é tudo. Ótimo. Eu devo ser muito burra mesmo, pra não ter notado antes. “Tudo” é o que é tudo, “obviamente”.
Sem perceber, eu caminhava então para a total incoerência:
- Ah meu Deus, esquece...
E mergulhada em equívocos, não tão inofensivos quanto os primeiros, a conversa desenrolava-se nas falas mais absurdas:
- Mas o que nós estamos, quer dizer, o que é isso?!?!?
- Como, “isso”?? Isso o quê???
Enquanto Marcela não poupasse indignação, muitos equívocos se seguiriam por cima de outros. A perda maior, não foi ter travado aquela conversa absurda e também não foi o tempo exagerado que tomou para terminarmo-la, mas sim o gasto que tivemos com o táxi para voltarmos da distante e enorme garagem de ônibus em que estávamos.
No entanto os amanhãs viram hojes, os hojes viram ontens, e os ontens, muitos deles, esquecemos. Avisto Marcela no final do ônibus, me olhando como se esperasse um “olá” e uma boa conversa, daquelas que só nós sabíamos dialogar. Fiz um cumprimento fraco, com os traços leais à fadiga de rotina. Marcela tinha um semblante leve, estava com uma das mais puras e simples felicidades, são aquelas que não tem porquê. Pairava no rosto a alma contente, fazia-me sentir bem. Reparei no seu colar que sempre estava ali, mas nunca estivera bonito como agora. Era de uma beleza indígena talvez? Por que não, Hippie? Talvez fosse apenas uma peça rústica? Talvez eu não devesse perguntar. Contudo, perguntei. Olhando metade pro colar, metade pela janela, para que não fosse aquilo, o começo de um assunto.
- O que é isso?
Carregada de uma leve tensão ela parecia não ter gostado da pergunta.
- Não, de novo não.
- “De novo não”?
- Ah meu Deus, esquece...
Questão de coerência, não hesitei em perguntar:
- Com quem exatamente você está falando, comigo ou com Deus?
Desmoronando o semblante, ela respondeu-me:
- Quem está sentado aqui, do meu lado no ônibus, conversando comigo? Só pode ser Deus!
Se o mau humor repentino era culpa da onipresença de Deus, o que se pode fazer? Perguntei de novo:
- Então...? ...o que é isso?
Subitamente, ela se levantou e foi embora.
Um senhor de olhar perdido parecia ter ouvido nossa conversa. Um senhor de terceira idade. Confuso, franziu a testa, encontrou meus olhos e disse:
- Meu Deus… O que foi isso?
Fiquei pensativo. Como iria explicar que era uma distração minha? Afinal, minha coerência extremista me levaria invariavelmente ao equívoco mais confuso possível, aquele que podemos admitir como ponto de vista alheio somente se duvidarmos do óbvio ululante. E, sabendo eu da diversão que isso me proporcionava, não poupava sarcasmos e ironias. Divertia-me. Desta forma, como um último ato de sarcasmo e ironia coerentes perante eu mesmo, respondi ao velho:
- Meu filho, não tentai penetrar os desígnios de Deus.

Montes porquês


Estou apaixonado pelo impasse
Me amo entre minhas dúvidas
Me chamo de indeciso e fico noites aceso
Esperando que o tempo me cace
na floresta de mim
e que eu saia ileso
vivendo da vida que dá
nos vales de sim
entre folhas de não
frutas de talvez
e horizontes que vão
desde os montes de porquês
até onde a pergunta há.

Tuesday, January 10, 2006

Greve

Falemos sobre a greve. Eu, particularmente, gostaria de fazer greve de lavar roupa lá em casa. O problema principal é: eu moro sozinho. Quando faço greve, logo vou ficando sem roupas, meu lado civilizado começa a reclamar e eu mesmo boicoto meu movimento. Não consigo união nem comigo mesmo e fico criticando o individualismo com o qual os professores tratam a greve. Eu e a minha preguiça, nem sindicato não temos e nunca sequer convocamos uma assembléia. Também, no dia que tiver acho que não vai ninguém. Muitos professores também não vão. Outros vão em respeito à própria categoria, outros vão por causa do café grátis, outros vão porque é uma tradição, outros vão pra votar alguma coisa, enfim, até hoje não se sabe muito bem o que os professores fazem em assembléias. Dizem que é um ritual secreto para seleção de novos integrantes da maçonaria. A meu ver, muitos professores se profissionalizaram em assembléias e greves, juntamente com aqueles que por uma inclinação natural, se viciaram nelas. Não espero dos professores, sejam eles amantes da greve ou não, a criatividade e inspiração para transcender e desviar o curso da evolução sócio-política nacional. Afinal, isso é responsabilidade de todos. Mas o fato de que a greve dos professores é tão organizada e eficaz quanto a minha, deveria ser suficiente para que tentassem outra coisa.

Imersa e bonita

Se o dia chove
Ela não quer sair,
Nem sabe que, mesmo tensa
É tão suave a mente imensa
Suavemente sente a intenção de pensar
Densa, pesa a diferença
E vê o céu movendo, se encaminha na palavra imersa
E ela, palavra tensa e densa, tenciona,
leciona o que pensa
E arde até ser dita
Porque existe, porque é totalmente, completamente, bonita.

Reticências

Estrada
Sol
Nada.
E só eu.
Eu sol.
Mas amanhã
Eu nada,
De manhã
Tudo de novo
Estrada...

Saturday, January 07, 2006

Pessoas e pensamentos


Um ônibus de pessoas e seus pensamentos:
“Aquele idiota do Marquinhos. Marquinhos. Marquinhos. Seu idiota. Mas a equivalência entre a variável “x” do ponto “B” e a variável “y” do ponto “D”, é coincidente com o ângulo oposto ao cateto “b” do ângulo Â, então… Ela é virgem. Ela é virgem. Quer dizer, ela era virgem. E agora? Ela vai ligar. E se ela não ligar? Não, ela vai ligar. Olha só, a roupa. Depois minha mãe diz que eu sou perua. Se ela visse metade dessa louca, nunca mais batia a língua pra falar de mim. Nossa, a calça é aberta… mas olha só isso! Mas que absurdo. Ridículo. Aí, eu vou chegar, vou abrir a geladeira, e ela vai ter comido tudo. Eu sei. Por que será que eu ainda fico me perguntando? Eu sou um idiota, mesmo. Aquele idiota do Marquinhos. Mas ele é um idiota tão lindo! Ai, ai. Marquinhos… sai da minha cabeça, por favor? Claro! Se os ângulos estão opostos pelo vértice, as duas variáveis são iguais! Mas e se ela não era virgem? Talvez ela fosse só um pouco virgem, quer dizer, não totalmente, completamente, absolutamente, virgem. Quer dizer, absolutamente ridículo, erradíssima, totalmente brega, combinação impossível. Se ela tivesse trocado a bolsa brilhante por uma, sei lá, uma… Outra geladeira. Só se eu comprar outra geladeira, porque ela simplesmente não respeita nada, não pensa nos outros. É isso, vou comprar outra geladeira. Porque só assim, os ângulos vão se alinhar em retas paralelas ao eixo “x”. A não ser que eu tenha pego o ônibus errado? É, acho que foi isso. Acostumei ela desse jeito e agora é difícil mudar. Outra geladeira não resolve. A solução mesmo é “x” igual a “b” mais um, logo, ela vai ligar e aí a gente conversa, até porque se ela era virgem ou não, o Marquinhos continua um idiota. Mas que idiota, peguei o ônibus errado!”
Confuso, ele pergunta do caminho:
- Ó amigo, que ônibus é esse?
O ônibus responde, é claro, antes do cobrador.
“E o Marquinhos também é distraído que nem esse aí. E se a soma dos ângulos é de cento e oitenta graus, como é que esse cara não sabe o ônibus que pegou? Porque ele pode não saber onde está, mas o cinto da mesma cor do sapato, com essa calça, ficou ótimo. E pra tudo ficar melhor, a comida de microondas já acabou, o que significa que, independente de ela ser virgem ou não, tem pessoas que são muito avoadas e sem o Marquinhos, a vida perde, realmente, o sentido. E se o sentido for horário, de quantos graus será o ângulo adjacente do triângulo ABC??”
E o cobrador responde:
- Cento e cinco, grande circular.

Leituras


Melhor que meu riso
É onde sorri meu paraíso
Onde o riso nem ri
Porque não quer sair
E se perder daqui.
É onde nos olhos tu lês
O sorriso que tu não vês.
E nos olhos eu leio
Teu caminho do meio
E lá te encontro assim
No sorriso de mim.

Wednesday, January 04, 2006

O bar

O bar é um lugar íntimo. É onde se fala mal de todas as pessoas que incomodam durante a semana. Quase um lar, para que todos nós tenhamos a oportunidade de sermos inconvenientes sem culpa. Ou com culpa mesmo, mas o fato é que no bar tudo parece mais inofensivo. Uma cervejinha ou duas é uma soma inofensiva, principalmente depois das outras trinta e duas. E todos falam ao mesmo tempo, contam as histórias de bar ao mesmo tempo, bebem ao mesmo tempo e de alguma maneira, convergem harmoniosamente na risada final, tudo ao mesmo tempo. Ninguém tem que ouvir ninguém. Ou porque é lei, ou porque a música é muito alta, ou porque estão todos muito bêbados ou talvez porque tenhamos todos a mesma idéia egocêntrica de que o que eu tenho pra dizer é muito mais interessante. Aliás, vocês já ouviram aquela do...
Talvez seja a sensação de estar livre. Quer dizer, na verdade, o bar é uma instituição de manutenção do nosso equilíbrio psicológico. É onde as pessoas se abrem e dizem até aquilo que não sabiam que queriam dizer. E é claro, se arrependem no dia seguinte. Mesmo assim, ainda sobra o triunfo tradicional: “eu estava bêbado”. Hoje em dia, funciona melhor do que hábeas corpus. E também não precisa dizer, “perdoa-me padre, pois eu pequei e nem me lembro direito”. “Eu estava bêbado” já basta. Se não te perdoarem, pelo menos você teve a decência de se justificar.
Outra vantagem do bar é que socializar não exige muita inteligência. Todos são iguais perante o bar. Na verdade nem é preciso falar muito. Uma ou duas frases colocadas na hora certa e no contexto adequado podem garantir a imagem de uma pessoa pelo menos agradável:
– POIS ENTÃO, DUDU!! É VERDADE OU NÃO É?!?
Então, dependendo da verdade, você bate na mesa e diz:
– É ISSO MESMO!! TÔ CONTIGO E NÃO ABRO!!
Ou, no caso da resposta ser negativa:
– GARÇOM, TRAZ MAIS UMA!!!
A única hipótese de ser excluído perante a fraternidade de um bar é pedir, ao invés de uma cerveja, um refrigerante. Pior ainda: uma água.
– Sem gás, por favor.
Nesse momento você se torna um corpo estranho, uma espécie bizarra, quase irreconhecível. Algo assim como um ornitorrinco. Ainda por cima, um ornitorrinco que não bebe. Mas tudo bem, diz o bar. Talvez você seja só uma pessoa infeliz que ainda não descobriu o sentido da vida. Então, vem a pergunta, desconfiada, mas com um certo ar de compaixão:
– Você não bebe??
É quando você percebe que se disser simplesmente “não”, deixará de ser um ornitorrinco infeliz e passará a ser visto como um traidor. Um traidor, um invasor, um espião, um dissimulado e um “duas caras”. Afinal, tudo pode ser perdoado numa mesa de bar, menos essa sua sobriedade. Até a pronuncia da palavra “sobriedade” já é meio sóbria. Uma afronta. É quando você responde:
– Hoje não. Estou tomando uns remédios para gastrite e...
Assim, por causa da gastrite, só dessa vez, está perdoado. Ou quase perdoado. E você sabe disso porque todo mundo faz aquela expressão de falsa compreensão, antes de mudar de assunto:
­ – Aahn...

Livros

Antes que você pense, eu vou dizer. “Esse texto é mais um daqueles”. “Daqueles quais?” você pergunta. E eu insisto: “daqueles!”. Ainda assim você não confessa nada e suplica ”Daqueles, quais?!?”. E aqui há a dúvida. Quando chegamos nesse ponto, não posso afirmar se você realmente não me entendeu. Talvez só não queira admitir que sabe do que eu estou falando. De qualquer forma, não me parece que vai dizer nada. E talvez esteja com aquela cara de me explica logo que eu não estou entendendo. Calma. É simples. Você está numa livraria, por exemplo. Para cada livro que você olha há uma expressão. Se você já leu e gostou muito, retira da prateleira com cuidado. Demonstra respeito, talvez saudade, e sente certa intimidade e satisfação. Segura o livro lido com as duas mãos e diz: “Pô, esse livro aqui…” e acrescenta: “Pô…”. Mas se você nunca leu e começa a se interessar muito, há uma surpresa. Há um outro tipo de valorização, apesar do comentário ser parecido: “Pô…” e acrescenta: “Esse livro aqui…”. Contudo, pode ser que seja só um livro mesmo. Mais um “daqueles”. Talvez você até faça um comentário: “Ih, esse aqui é ‘daqueles’…” e o livro volta pra prateleira. Mas se esse texto é mais um daqueles, qual é o propósito de lê-lo ou escrevê-lo? A verdade é que cometi um pequeno equívoco, esse texto não é exatamente “mais um daqueles”. É ele na verdade, um texto que você ainda vai ler. É um livro que te chamou a atenção. Intrigante, talvez. Você o tira da prateleira, olha a contracapa, lê o título, inconscientemente avalia a brochura, lê uma página ao acaso, lê a contracapa de novo, observa o tamanho da letra, sente a qualidade do papel, observa de novo o maldito tamanho dessas letras pequenininhas, porque será que fazem as letras desse tamanho, deve ser de propósito pra gente ficar com dor de cabeça, lê mais outra página ao acaso, inconscientemente verifica se a cor da capa é agradável, segura com a mão direita e mantém a mão esquerda coçando o queixo. Nessa posição, você olha fixamente para o produto literário. Esquece que está na livraria. E pensa alto dizendo pra si mesmo:
– Pô… Esse livro aqui…
E alguém ouvindo, tradicionalmente pergunta:
– É bom?
Ao que você confirma:
– É sim. Esse aqui é daqueles.
E apesar de você saber que “daqueles” não é bem uma descrição, você sabe que não precisa dizer mais nada. Afinal, “daqueles” era só uma palavra que você usou para dizer que o livro era, enfim, como dizer? Daqueles.

Meu e seu mel

Teus lábios são,
realmente,
de mel.
Mas não têm o gosto
do mel.
Têm o gosto que têm.
Têm a realidade,
de serem seus
e de, realmente,
tocarem os meus,
de tocarem o mel
da minha mente.