Friday, December 30, 2016

Notas, palavras e significados

Por que será que quando ouço ou leio a palavra “fitopatologia” me dá um acesso de riso mental? É como se “fitopatologia” já fosse uma crônica pronta, antes de ser escrita. Mas “nudez” não tem esse efeito. “Nudez”, só de falar, já me sinto um pouco nu. O “palhaço” não me traz nada de cômico. Mas “fitopatologia”...

Claro que existem contextos e além deles, outros contextos. Em algum lugar, nos mistérios do absoluto, talvez não haja nenhum, mas seja lá como for, as palavras sempre me dão a impressão de terem algo além dos seus significados. Como se cada palavra tivesse um “marketing” próprio. Creio que não funcione pra todo mundo. Sei que deve haver muitas pessoas que não vêem a menor graça em “fitopatologia”. Tudo bem, elas não sabem o que estão perdendo.

De qualquer forma, independente da assertividade de uma teoria do “marketing” das palavras, salta aos olhos a amplitude de cada significante. Quer dizer, cada palavra tem seu mundo, que ultrapassa seu simples significado, sua mera definição no dicionário. O que me fascina, é que com todos esses mundos e horizontes pra combinar, são inúmeras as vezes em que não consegui me expressar através deles. Apesar de óbvio, vez ou outra me surpreende o fato de que palavras não bastam. Sinto isso quando tenho que dar “meus pêsames” à alguém. Sempre tenho a sensação de que a pessoa vai mandar eu pegar meus pêsames e ir até aquele lugar bem longe.

Foi por essas e por outras que resolvi ser músico. Independente de música ser uma linguagem melhor ou não, cada linguagem serve pra um tipo de comunicação. No meu caso, depois de ler alguns filósofos para me distrair, descobri que devia falar menos e tocar mais. E ainda que eu tenha encontrado a linguagem que me serve melhor, vivo buscando as notas certas e as sinfonias que tocam na minha cabeça. Muitas vezes não me deixam nem dormir, como se houvesse uma orquestra inteira tocando no meu quarto.

Entre as notas e as palavras, para finalizar, volto ao que me fez escrever este texto. Eu estava na casa de uma amiga e ela perguntou, procurando músicas no computador: “o que você quer ouvir?” Eu disse: “a sinfonia do infinito” e ela disse: “o quê??” E respondi: “ah, coloca qualquer coisa aí...”.  

Wednesday, November 02, 2016

O som das pausas

São nascentes
os sons das pausas
que tocam em sinfonias
de silêncios de ti.

Os abraços infinitos em olhos poentes,
são as causas dos nossos dias
que renascem aqui.

Saturday, October 29, 2016

A vida da vista

Para ver a poesia
ainda que no horizonte
distante, minguante,
ao final do dia...

Sobe alto no monte
de nadas de ti
e sejas tu o bem-te-vi
sejas tu a tua ponte
para a luz que te acolhe...

Escolhe.

A vida em respiração
a chuva que chove
os sóis nascentes
os fins do coração.

Todo dia que a vida se pôr
em luzes infinitas, ao presente,
em árvores bonitas que dão o instante que for...

Olhe.

Bálsamo

Um bálsamo de água, um passo de nada.
Um nada, passo-a-passo:
um pouco de muito, um muito de pouco
um vôo de louco, com um pedaço de cada.
Um passo de nada. Um passo de obrigado, de sorrir na caminhada.
Um nada que passa, mas deixa um pedaço.
Um bálsamo de água, um viver à nado.
Que a cada braçada,
é o caminho, é sozinho 
todo o abraço.

Monday, October 17, 2016

Arte do caminho

Na estrada das imperfeições,
no nada dos ideais cristalizados,
no menos e no mais dos corações
e nos passos, idos ou voltados...

A felicidade é sangue de mim
e eu correrei por entre os infinitos.
Descansarei em sóis de sim
e em luas de entardeceres não ditos.

Porque para cada verdade que eu olhe
tocarão chuvas em gaitas-de-fole
que também respiram tempestades
e multiplicam felicidades.

São horizontes de arte
em que meu espírito é em toda parte

o seu próprio caminho de liberdade.