Wednesday, June 21, 2006

Por que não?

– E agora?
– Quê?
– E agora??
– Agora?
– É. E agora?
– Não, agora não.
– Agora não?
– Não, agora é melhor não.
– Por que não?
– Porque não.
– “Porque não” não é resposta.
– Ah, não?
– Não.
– Por quê?
– Porque não, porque não faz sentido.
– “Porque não”...?
– Não, mas não é assim.
– Ah, não?
– Não.
– Então como é?
– Não, é que eu, quando eu disse, foi mais assim, sei lá. Foi diferente.
– Ah, é?
– É, não foi assim, como se eu quisesse, pra terminar a idéia, como se fosse, tipo, “acabou”, entende?
– Claro.
– Quer parar com essa maldita ironia?
– O que você está dizendo, basicamente, é que “porque não” não é resposta. Mas é claro que, se você, o centro do universo, precisar usar um “porque não” ou outro, tudo bem, porque você é diferente.
– Eu não sou diferente.
– Ah, não?
– Não.
– Por quê?
– Porque quando as respostas são óbvias, ninguém pergunta nada sobre elas.
– Sim.
– E quando um porquê é obvio, não se pergunta “por que não”.
– Ah, não?
– Não!
– E por que não?
– Porque nã… Ah, vai pro inferno.
– Vou sim. Por que não?
Depois dos socos que trocaram, cansaço. Os dois sentam-se à mesa.
– Idiota.
– Eu? Eu é que sou idiota?
– É.
­– Ah sim, certo. Eu sou o idiota.
– É sim. E por que não seria??
– Não provoca.
– Provoco sim, por que não??
– Por quê? “Por quê não”?
– É! Por que não?!?
– Por quê? Você quer saber por quê não?!?!?
– É isso aí!!! Por que não?!?!?
– PORQUE NÃO!!!!!! PORQUE NÃO!!!!!!
Voltam aos socos.
Sentados na sala. Compressas de gelo. Ela chega, pergunta o que houve.
– Nada.
– É, não foi nada não.
Ela pergunta:
– Se vocês estão tão estressados por que não vão dar uma volta?
Entreolham-se e respondem, juntos:
­­­– Porque não.

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