Se você já viajou de avião deve ter ouvido algo assim: “em caso de pane, máscaras cairão sobre a sua cabeça, prenda-as com o elástico”. Leia-se que ninguém virá te salvar ou irá se responsabilizar por quaisquer danos vitais mas você ganha uma máscara de presente. Não sei não. Toda vez que dou uma olhada nessas máscaras de avião tenho a impressão de que elas já foram usadas e reutilizadas. E que não vão funcionar. Da última vez que viajei reparei bem no tamanho do elástico e tenho quase certeza de que aquilo não caberia na minha cabeça. Depois vem aquele papo de que meu assento é inflável e flutua e que é só puxar aqui e ali para montar. É quando me lembro que passei um tempão pra montar um armário com um amigo meu e depois de umas duas horas ainda ficou meio torto. E nessas horas não dá tempo de pensar, mas você deve proceder conforme o indicado na cartilha que se encontra no bolso do banco da frente. A demonstração dos comissários de bordo sempre faz a pane parecer um evento organizado e ordinário, que deve, por obséquio, ser vivenciado de forma ordenada e civilizada. Dá até pra imaginar um passageiro mais revolto numa situação dessas:
- Senhor, devo pedir para que recoloque a máscara, estamos tendo uma pane na pressurização.
- Eu aceito usar a sua, gatinha.
- Senhor, por favor, devo pedir para que recoloque a sua máscara e mantenha o cinto afivelado.
- Você não sabe o barato que dá ficar sem essa coisa aí. Vamos voar juntos, gata.
Nisso chega o comissário e ameaça jogá-lo pela janela, já que agora ela está aberta mesmo.
O curioso é que ninguém tem que fazer curso de pára-quedismo pra viajar de avião. Em caso de pane já está tudo preparado para que você tenha uma morte confortável. Você só tem que manter a calma, usar as máscaras com elástico, colocar a poltrona na posição vertical e se você estiver com pressa de chegar ao chão, há quatro saídas de emergência, duas na parte frontal da aeronave e mais duas na parte traseira.
Oi pessoal! "Os que não foram fora" são os textos, poemas e poesias que sobreviveram à autocrítica. Sempre quis editar um livro mas vou escrevendo na mesma medida em que vou selecionando os textos e jogando alguns fora. Por essa e por outras, não consegui pensar num título que representasse um conjunto de poesias que eu queria editar. Foi quando me deram uma sugestão de título que eu gostei: "as que não foram fora".
Sunday, May 28, 2006
Thursday, May 11, 2006
Divisórias de um banheiro
Num banheiro, o suor escorria-lhe o rosto. “Tem entrevista às três”. Do toalete vizinho, um desabafo:
- Huuuummmpppffff!!!
Resolveu comunicar-se.
- Ó, amigo! Tem papel aí?
Silêncio. Não deve ter ouvido. E agora? Sem papel, sem relógio e sem comunicação. Mas o pior de tudo era ainda não ter terminado. Decidiu tentar de novo:
- Ó, amigo! Tens papel, aí?
- Huuummmppppffff...
Mais silêncio. Subitamente, houve comunicação:
- Papel, é?
- É! Papel, tem aí?
- Ih, rapaz. Sabe que não tem?
- Como “não tem”? É um absurdo. Isso aqui é um banheiro.
- Toma.
- Que é isso?
- Caderno dois do jornal. Substitui, né?
- Puxa. Obrigado.
Barulho de papel. Aproveitou o restante pra enxugar a testa. Calor. Papel. Banheiro. Comunicação. O que era mesmo? A entrevista!
- Ó amigo! Tem horas, aí?
- São duas e meia.
- Duas e meia? Dá tempo. Tem que dar.
- Compromisso, é?
- Tô quase me atrasando.
- Eu estou de carro, posso te dar uma carona. Hoje é minha folga.
- Puxa. Obrigado.
- Podemos ir agora. Estou terminando.
Ao som de duas descargas barulhentas, os dois saíram de suas cabines e da proteção que tinham de ver um ao outro. Fitaram-se: um deles engravatado, barba feita, pasta na mão; o outro, adolescente, cabelo comprido e um brinco no nariz.
- Olha, não precisa de carona, não.
- Sim. Digo, não. Na verdade eu tinha mesmo o que fazer agora que já são... que horas são?
- Pois é.
E cada um foi pra cada lado.
- Huuuummmpppffff!!!
Resolveu comunicar-se.
- Ó, amigo! Tem papel aí?
Silêncio. Não deve ter ouvido. E agora? Sem papel, sem relógio e sem comunicação. Mas o pior de tudo era ainda não ter terminado. Decidiu tentar de novo:
- Ó, amigo! Tens papel, aí?
- Huuummmppppffff...
Mais silêncio. Subitamente, houve comunicação:
- Papel, é?
- É! Papel, tem aí?
- Ih, rapaz. Sabe que não tem?
- Como “não tem”? É um absurdo. Isso aqui é um banheiro.
- Toma.
- Que é isso?
- Caderno dois do jornal. Substitui, né?
- Puxa. Obrigado.
Barulho de papel. Aproveitou o restante pra enxugar a testa. Calor. Papel. Banheiro. Comunicação. O que era mesmo? A entrevista!
- Ó amigo! Tem horas, aí?
- São duas e meia.
- Duas e meia? Dá tempo. Tem que dar.
- Compromisso, é?
- Tô quase me atrasando.
- Eu estou de carro, posso te dar uma carona. Hoje é minha folga.
- Puxa. Obrigado.
- Podemos ir agora. Estou terminando.
Ao som de duas descargas barulhentas, os dois saíram de suas cabines e da proteção que tinham de ver um ao outro. Fitaram-se: um deles engravatado, barba feita, pasta na mão; o outro, adolescente, cabelo comprido e um brinco no nariz.
- Olha, não precisa de carona, não.
- Sim. Digo, não. Na verdade eu tinha mesmo o que fazer agora que já são... que horas são?
- Pois é.
E cada um foi pra cada lado.
Saturday, May 06, 2006
Lembrança
Do vento que não faz
a árvore balançar,
do vôo que a ave voa
sem se cansar,
da nota que soa,
quase à toa,
mas diz da paz
que há.
Da paisagem mais bonita
que não se alcança.
É daí que me vem
tua lembrança.
a árvore balançar,
do vôo que a ave voa
sem se cansar,
da nota que soa,
quase à toa,
mas diz da paz
que há.
Da paisagem mais bonita
que não se alcança.
É daí que me vem
tua lembrança.
Sim, não e sei lá
Não,
é uma boa palavra
para definir o mesmo que
sim
Então assim se define
que sim ou que não.
Mas a manhã viva ou não,
também,
mal ou bem subjetiva
vira a vida
e sua lógica subversiva
sua louca definição.
E é aí que se percebe
como dizer o que há
e não se diz nem sim nem não
mas sim,
sei lá.
é uma boa palavra
para definir o mesmo que
sim
Então assim se define
que sim ou que não.
Mas a manhã viva ou não,
também,
mal ou bem subjetiva
vira a vida
e sua lógica subversiva
sua louca definição.
E é aí que se percebe
como dizer o que há
e não se diz nem sim nem não
mas sim,
sei lá.
Julia
Quando aqui,
aqui é longe.
E quando lá,
lá é perto.
Quando perto,
quase lá.
E quase longe,
quando aqui.
A saudade,
não finda em si.
E fica linda,
quando finda em ti.
aqui é longe.
E quando lá,
lá é perto.
Quando perto,
quase lá.
E quase longe,
quando aqui.
A saudade,
não finda em si.
E fica linda,
quando finda em ti.
Viva o vinho
Viva
o vinho
e a vida que dá na uva,
os dias que eu saio
pra tomar banho de chuva
e ficar sozinho
com as notas que ensaio
Viva
A orquestra
A luz que invade uma sinfonia
Viva a chave mestra
Que abre o sol de todo dia
Viva
Cada vento que voa
Minhas lembranças suas
A gaita que ressoa
Nossas palavras nuas.
o vinho
e a vida que dá na uva,
os dias que eu saio
pra tomar banho de chuva
e ficar sozinho
com as notas que ensaio
Viva
A orquestra
A luz que invade uma sinfonia
Viva a chave mestra
Que abre o sol de todo dia
Viva
Cada vento que voa
Minhas lembranças suas
A gaita que ressoa
Nossas palavras nuas.
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