Todas as madrugadas
são enluaradas
e acordadas, pelas minhas serenatas.
As flores e as melodias e violões
nas horas mais insensatas,
vão cantando os fanfarrões
que amam dentro de mim.
E meus gestos são assim
serestas, vozes e acordeons
em frente às varandas e sacadas.
Músicas de todos os tons
minhas notas certas com as erradas
tocadas em flamencos dos bons.
E quem me ver cantando, como um guri
que acenda as luzes e abra a janela.
O canto é pra quem sabe ouvir,
pra eu sair e caminhar com ela
até a noite dormir.
Oi pessoal! "Os que não foram fora" são os textos, poemas e poesias que sobreviveram à autocrítica. Sempre quis editar um livro mas vou escrevendo na mesma medida em que vou selecionando os textos e jogando alguns fora. Por essa e por outras, não consegui pensar num título que representasse um conjunto de poesias que eu queria editar. Foi quando me deram uma sugestão de título que eu gostei: "as que não foram fora".
Tuesday, February 21, 2006
Românticos
Uma história romântica.
Ele era um romântico. E estava, completamente, definitivamente, totalmente, intensamente, indiscutivelmente, veementemente apaixonado. E ela, estava, como dizer? Proporcionalmente indecisa. E com tanta indecisão, ele ficou mais apaixonado. E ela era linda. E ele não era de se jogar fora. E ela continuava indecisa. E ele cada vez mais apaixonado. E ela era cortejada e indecisa. E ele, cortejador e apaixonado. E ela, indecisa. E ele, apaixonado. E ele ficou tão perdidamente, irremediavelmente, indiscretamente, extasiadamente, imprudentemente e insensatamente, apaixonado... que desistiu. Pensou: oras, que espécie de mulher é essa que não quer toda essa paixão?
Ele era um romântico. E estava, completamente, definitivamente, totalmente, intensamente, indiscutivelmente, veementemente apaixonado. E ela, estava, como dizer? Proporcionalmente indecisa. E com tanta indecisão, ele ficou mais apaixonado. E ela era linda. E ele não era de se jogar fora. E ela continuava indecisa. E ele cada vez mais apaixonado. E ela era cortejada e indecisa. E ele, cortejador e apaixonado. E ela, indecisa. E ele, apaixonado. E ele ficou tão perdidamente, irremediavelmente, indiscretamente, extasiadamente, imprudentemente e insensatamente, apaixonado... que desistiu. Pensou: oras, que espécie de mulher é essa que não quer toda essa paixão?
Thursday, February 09, 2006
Marasmo-carnavalesco-braziliense
Brasília, carnaval. Carlão e Jota-jota na sala de estar. Cabelos grandes, brincos no nariz. Dois sofás, duas cervejas, uma televisão e tédio. Nove horas da manhã:
- E o “rock”?
- Não tem.
- Nada?
- Nada.
- Não tem nada?
- Não tem. Nada, zero, vazio.
- ‘Cê tentou o dois?
- No dois tá passando aquele cursinho pré-vestibular. Você não vai passar no vestibular.
- Vou jogar essa cerveja na tua cara.
- Vais desperdiçar vossa bebida porque vos abri os olhos para uma dolorosa verdade.
- O quê?
- Carnaval é tão monótono.
- É.
- Pois é.
Horas se passam. Nenhum dos dois fala. Calor. Três da tarde:
- Acho que vou levantar.
- Pra quê?
- Cerveja.
Volta com a cerveja. Mais silêncio. Três e quinze:
- Acho que também vou ter que levantar.
- Cerveja?
- Banheiro.
Quatro horas. Carlão lembra que o amigo tinha ido à algum lugar. Onde era mesmo? Cozinha? Cerveja? Banheiro? Banheiro. Acho que fora ao banheiro.
- Jota-jota! Ainda tá aí?
- Há! Tem uma lagartixa! Vem cá!
- Lagartixa?
- É, tô jogando cerveja nela. Vai ficar bêbada.
- Legal! Espera, vou buscar mais cerveja.
Indagam-se sobre lagartixas. O que elas bebem? Concluem que cerveja é muito bom. Jogam cerveja na lagartixa. Seis horas.
- Acho que ela morreu.
- Será que entrou em coma alcoólico?
- Vamos parar de gastar cerveja.
- É.
- A gente devia fazer isso mais vezes.
- O quê?
- Disse que a gente devia fazer isso mais vezes!
- Tá, mas isso o quê?!?
- Sei lá. Jogar cerveja em lagartixas, por exemplo.
- Ahn.
Voltam para a sala. Carlão, Jota-jota, duas cervejas, dois sofás e uma lagartixa. Onze horas. TV de novo.
- E o “rock”?
- Não tem.
- Nada?
- Nada.
- Não tem nada?
- Nadica.
- Já tentou o dois?
Mudou para o dois. Nenhum “rock”. Meia noite.
- Cadê aquela lagartixa?
- Vou buscar mais cerveja.
- E o “rock”?
- Não tem.
- Nada?
- Nada.
- Não tem nada?
- Não tem. Nada, zero, vazio.
- ‘Cê tentou o dois?
- No dois tá passando aquele cursinho pré-vestibular. Você não vai passar no vestibular.
- Vou jogar essa cerveja na tua cara.
- Vais desperdiçar vossa bebida porque vos abri os olhos para uma dolorosa verdade.
- O quê?
- Carnaval é tão monótono.
- É.
- Pois é.
Horas se passam. Nenhum dos dois fala. Calor. Três da tarde:
- Acho que vou levantar.
- Pra quê?
- Cerveja.
Volta com a cerveja. Mais silêncio. Três e quinze:
- Acho que também vou ter que levantar.
- Cerveja?
- Banheiro.
Quatro horas. Carlão lembra que o amigo tinha ido à algum lugar. Onde era mesmo? Cozinha? Cerveja? Banheiro? Banheiro. Acho que fora ao banheiro.
- Jota-jota! Ainda tá aí?
- Há! Tem uma lagartixa! Vem cá!
- Lagartixa?
- É, tô jogando cerveja nela. Vai ficar bêbada.
- Legal! Espera, vou buscar mais cerveja.
Indagam-se sobre lagartixas. O que elas bebem? Concluem que cerveja é muito bom. Jogam cerveja na lagartixa. Seis horas.
- Acho que ela morreu.
- Será que entrou em coma alcoólico?
- Vamos parar de gastar cerveja.
- É.
- A gente devia fazer isso mais vezes.
- O quê?
- Disse que a gente devia fazer isso mais vezes!
- Tá, mas isso o quê?!?
- Sei lá. Jogar cerveja em lagartixas, por exemplo.
- Ahn.
Voltam para a sala. Carlão, Jota-jota, duas cervejas, dois sofás e uma lagartixa. Onze horas. TV de novo.
- E o “rock”?
- Não tem.
- Nada?
- Nada.
- Não tem nada?
- Nadica.
- Já tentou o dois?
Mudou para o dois. Nenhum “rock”. Meia noite.
- Cadê aquela lagartixa?
- Vou buscar mais cerveja.
Matéria
Garantindo meu silêncio, resolvi escapar por entre as árvores. À primeira vista, não restavam sequer pequenas esperanças e, se eu estivesse ali sem saber porquê ou sem saber de onde, o que poderia restar de uma vida completamente desconhecida no campo científico? O que diriam, o que seria dito? Se é que diriam alguma coisa.
As partículas estavam todas me seguindo, sem que eu pudesse vê-las. Os vírus, bactérias, todo e qualquer macro e microorganismo patológico presente na região rodeava meu corpo, sem que eu pudesse tentar qualquer tipo de contra-ataque.
As moléculas se quebravam, reagiam entre si e, assim sendo, os átomos das moléculas de gases entravam por entre minhas narinas, levando substâncias estranhas para dentro do meu ser. E de repente, meu pensamento confundia-se com meus instintos de sobrevivência, o que provocou mais do que angústia ou desconforto; desta forma, esqueci-me de respirar e morri afogado em minha própria existência.
E toda essa imaginação jogada fora porque tenho de estudar essas malditas ciências exatas.
Pro inferno com os átomos.
As partículas estavam todas me seguindo, sem que eu pudesse vê-las. Os vírus, bactérias, todo e qualquer macro e microorganismo patológico presente na região rodeava meu corpo, sem que eu pudesse tentar qualquer tipo de contra-ataque.
As moléculas se quebravam, reagiam entre si e, assim sendo, os átomos das moléculas de gases entravam por entre minhas narinas, levando substâncias estranhas para dentro do meu ser. E de repente, meu pensamento confundia-se com meus instintos de sobrevivência, o que provocou mais do que angústia ou desconforto; desta forma, esqueci-me de respirar e morri afogado em minha própria existência.
E toda essa imaginação jogada fora porque tenho de estudar essas malditas ciências exatas.
Pro inferno com os átomos.
Subscribe to:
Posts (Atom)