Há pouco tempo me disseram que o mundo ia acabar. Com data
marcada e tudo. E que, portanto, era preciso resolver questões, definir
prioridades, etc. Quase afoito, perguntei que horas eram, franzi a testa,
respirei fundo, tomei fôlego, e disse:
- Que fome!
Mas não é que comer seja uma prioridade acima de todas as
outras coisas mais importantes, como dormir, relaxar e descansar, quer dizer,
não é que eu não dê a mínima para resolver questões ou definir prioridades. É
que não se deve ir ao fim do mundo de estômago vazio. A não ser que seja uma
comemoração, claro. Aliás, eis aí uma pergunta de fato relevante: o que comer
na última refeição?
Quando dizem que o mundo vai acabar, parece que as pessoas finalmente
começam a interpretar e entender que nós vamos passar por um fim. Ou, em outras
palavras, parece que as pessoas começam a compreender que vamos morrer:
- O mundo vai acabar!! Vai acabar!!
- Po, e eu, que ainda não almocei?!? E já são quatro horas!!
Quatro horas!!
Todos nós sabemos que a idéia do fim do mundo marca a urgência
de fazer algo importante. Normalmente, algo importante que provavelmente não
estávamos fazendo direito: viver. Há muitas razões e explicações para isso,
quer dizer, para “não viver direito”. Desde as justificativas mais
incontestáveis como “agora não, to no banheiro” até as mais bobas como “tenho
que passar no concurso”, cada um tem um jeito seu de se conciliar com a vida
que vive.
Por isso é importante que haja o fim do mundo, de vez em quando. De preferência um
evento anunciado, claro. Assim surge a idéia de questionar tudo, antes que o
mundo acabe... de novo. Ou seja, toda vez que o mundo acaba é um evento muito
igual aos outros. Há uma expectativa, uma reflexãozinha aqui, outra ali, depois
devem colocar algumas fotos na internet dizendo como esse fim do mundo foi bom.
Nada de grandes novidades.
Alguns dias antes do evento, o máximo que pode acontecer é
você ter que almoçar às quatro horas da tarde e o atendente da lanchonete parar
pra pensar em voz alta:
- Pra onde vamos...? Quem sou eu?
E tudo que você tem que fazer é responder “você é o sujeito
que está demorando demais pra trazer meu sanduíche” e refletir que, diante de tamanha fome, se o seu
pedido demorar só mais uns cinco minutos o mundo pode realmente ser destruído, antes do previsto.
Por essas e por outras, eu decidi que não vou. Não vou ao
fim do mundo. O mundo pode acabar à vontade, as pessoas podem se entreter com
isso, mas eu não vou participar. Não é que eu prefira ficar em casa, relaxando
ou descansando. Também não sei se o fim está marcado para a hora do almoço, o que
me impediria de ir, de qualquer forma.
É que viver é mais importante pra mim. Acredito que estou
caminhando pelo aprendizado de viver direito, no tempo que tenho, que é agora. Só
agora, com nada mais nada menos do que eu mesmo, é que eu posso continuar
vivendo de verdade. Eu, na condição de eu mesmo, ou ainda, “em nível de
mim”, estou vivendo, vivendo mesmo, no tempo que está disponível: agora. O daqui a pouco pode até estar quase chegando, mas eu sou o que sou neste momento. E
agora o mundo não está acabando.
Acredito sim, que podemos nos iluminar em um instante. Mas
na minha forma de ver a caminhada da vida, o fim do mundo não tem muito mais
influência do que um almoço atrasado, às quatro da tarde.
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