Tuesday, October 30, 2012

Hoje eu vi o dia


A trilha é bonita.
A vida é o que anda até a cachoeira infinita.

E hoje eu vi o dia,
em que um passo nasce:

a melodia toca a respiração 
quando um pouco do infinito 
dá um abraço no caminho,
como se, uma vez ofegante, 
o coração descansasse.

Friday, October 19, 2012

Evasivas


Há pessoas que se caracterizam por uma maestria inconsciente em evasivas. São pessoas que, até onde elas mesmas sabem, estão honestamente dispostas a responder à sua pergunta. Conscientemente, no entanto, as respostas mais simples e diretas parecem realmente não estar disponíveis. Ao tentar se comunicar com elas, é provável que você seja envolvido em algum tipo de trabalho evasivo.
- Que horas você vai chegar?
- Olha, eu pretendo sair e me encontrar com a Ana, a amiga do Vito, porque depois ela já não pode mais, pois ela teve um problema com o Júnior, que aliás, me disse pra te lembrar de passar no banco, aquele que o Flávio te levou, e pegar aquela grana.
Eis então, quando, infelizmente, você pergunta:
- Mas que grana??
E aqui, está iniciado o trabalho evasivo.
- Como assim, “que grana”?? Aquela grana do computador do marido da Lurdes.
Perdido, você logo se irrita com sua própria desorientação:
- Mas que “Lurdes”?!?
 O mestre evasivo, por sua vez, o trata como um interlocutor mais que meramente desatento ou distraído, isto é, como alguém inacreditavelmente desorientado, mesmo:
- Pô, é brincadeira isso?!? A Lurdes!!! Mas como é que você não se lembra da Lurdes?!?!?
Se você não estivesse tão confuso, diria:
- E você, que não consegue nem me dizer que horas vai chegar?!?!?
Mas você está confuso. Faz parte da maestria em evasivas. São várias perguntas sem resposta que, uma vez respondidas, não dizem o que você queria saber, ou dizem o que você não lembra se quer saber, ou dizem o que ainda quer saber mas não lembra o que era; enfim:
- Mas que Lurdes é essa, meu Deus?!?
O outro insiste e diz “A LURDES!!!!”, tentando acordar seus neurônios, ativar sua desfavorecida e inepta memória. Mas antes mesmo de você dizer palavras de baixo calão sobre a Lurdes, o marido dela e o computador dela, o outro faz uma expressão de incompreensão, indignação e desapontamento. Significa que ele realmente não consegue acreditar que você não lembra da Lurdes e que desiste de tentar se comunicar com você, que é obviamente uma pessoa dispersiva demais, desatenta demais, e pouco objetiva para sustentar qualquer diálogo minimamente eficiente:
- Não acredito que você não se lembra da Lurdes!
Neste momento, você junta todas as suas forças para encontrar algum sentido na idéia da convivência pacífica e na realidade daquela conversa evasiva, lembrando então, o que a iniciou:
- Mas, então, afinal, que horas você vai chegar??
- Bom, eu vou ter que sair agora com a Ana e talvez a gente encontre com o Flávio também, por causa do problema dela com o Júnior, que, como eu já disse, foi quem pediu várias vezes pra eu lembrar você de ver aquele assunto do computador do marido da Lurdes.
Quer dizer: nada sobre que horas o outro vai chegar. Tem a Ana. Tem o Júnior. Tem o Flávio, a Lurdes e um enredo que pode até ser interessante. Mas nada que informe realmente sobre que horas o outro vai chegar. Então, enquanto você tenta encontrar um sentido juntando partes de informações inúteis, o outro ainda explica:
- É aquele banco que o Flávio te levou... o Júnior me disse pra te lembrar de passar lá e pegar aquela grana.
E irrefletidamente, você cai de novo na mesma armadilha:
- MAS QUE GRANA!?!?!?
Agora, além de ser uma pessoa desmemoriada e difícil de dialogar, você é comprovadamente uma pessoa incrivelmente rude. Evidentemente pouco acostumada a discussões educadas, civilizadas. O outro faz então, uma expressão de desaprovação, deixa muito claro que é impossível conversar com alguém assim e resolve ir embora.
Contudo, num gesto de caridade com a sua personalidade difícil e desajustada, antes de ir, o outro decide ajudá-lo, isto é, simplificar toda a questão:
- Olha, eu tenho que sair, mas deixa que eu vejo isso aí com a Lurdes pra você, pode deixar que eu falo com ela... Deixa que eu resolvo isso aí. Só me diz uma coisa: a que horas você vai chegar?

Sunday, October 07, 2012

Seja, sempre, entre

Meu grande amor,
esqueça de mim.
Seja...

grande amor,
viva assim,
sempre... 

amor,
sim.
Entre.

Monday, October 01, 2012

Pássaros



Há tantos pedaços de nós,
nós aqui e ali...

E nada desata abraços a sós
em amores que não voam 
por aí.

Os que voam,
são pássaros cantando 
bem antes do sol nascer.

Por aí, soam,
a vida que segue voando, a liberdade de viver.