Escrever. Inscrição. Escrita. Escritura. Excreção. Não, excreção não. Vejamos, vejamos… escre… escrevência. Não. Escreverecência. Escrevevinência. Não. Escreverar? Não. Escrevorear. Também não. Escriturar… escre… escrivão, escrevena, escrevina… não, não, não! Calma. Escrever a essência. Escreveressência. Escrevessência. Excrescência. Não, não! Saco! Como encontrar, como encontrar o detalhe, a beleza de um traço, a tradução da literária alma do escrever? Aquilo que há no escritor, que é a essência das idéias e das obras geniais que um dia escreveram e que um dia escreverão?
Escrever sobre o escrever… Talvez o escrever sobre o não escrever? Não, acaba dando no mesmo. Pense, pense. Devo trazer o talento afiado do escritor. Devo trazer o caminho das palavras que juntas se descobrirão em uma frase. Como se fossem as pétalas nunca ainda abertas e que pela primeira vez sentem o todo além de si mesmas, e formam a flor solitária na estrada de terra que nos leva cerrado adentro. Não… Quase deu certo. Essa coisa de flor, já usaram muito. Preciso da essência, do centro, da literariedade. Dos bastidores das palavras, da cola, da ilógica emocional que as mantém juntas no ensaio deturpador da utopia que é a perfeição. Preciso da escrefeição. Não, escrefeição não.
Vamos com calma. Vamos para além, para além da dialética. Isso. Vamos para a dialêntica... Dialênica. Dialêntida. Não. Para a diaélica, a diaéltica, a dialéltica, além da dialética complexa... a dialéxica!! Não, dialéxica, não. Droga, revoltemo-nos!! Deixemos a superficialidade!! Vamos ao sacerdócio do palavrear dialérico!! O sacerdotismo dialírico, o sacerdotar dialérgico!! Não!! Dialérgico, não. Calma lá. Vamos por partes. Precisamos chegar ao cerne. À origem, ao início do sacerdócio. O sacerdocismo, o sacerdotélico... sacerdo... sacerdotísico. Não, não... Sacerdocínio, sacerdocídio, sacerdocínico?!? Não, não!!!!!!
Calma. Simplicidade. Vamos lá. Para simplificar, é só falar em voz alta. Não pense, fale. Tenho que descrever o universo das palavras e as distâncias dos planetas em que as palavras vivem e se desenvolvem, as vidas em que a mente do escritor viaja livremente em busca de frases, músicas, poesias e filosofias, traduzidas para várias dimensões de paisagens diversas.
É, mas agora com a cabeça cansada não dá, outra hora, quem sabe. Sacerdocírico... sacerdocíclico? Não. Sacerdocíclico, não.
3 comments:
palavas são só palavras.. Só servem pra alguma coisa quando viram sentimentos, sabe?
Eu não sabia.
Eu já acho que palavras e sentimentos são formados pela mesma matéria esquisita e indefinível.
A diferença é que dá pra traduzir o segundo no primeiro, se você for muito competente.
E as primeiras causam o segundo, se você não tiver suficiente autocontrole.
Engraçado, eu desconfiava que essa crônica teria poucos comentários. Que bom que os dois são de vcs.
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