Tuesday, October 23, 2007

Conversando

Outro dia, eu queria conversar comigo mesmo. E nada de nós nos encontrarmos, ando muito sem tempo. Mandei-me um email, que eu li correndo e nem me respondi. Pensei: vou me adicionar no msn.
Nós nos encontramos então, no msn, eu e eu. E foi estranho, não porque era uma conversa de msn comigo mesmo, mas porque eu sou muito diferente de mim. Foi bom, pra me conhecer melhor e saber como lidar comigo. Mesmo assim, ficamos ambos surpresos e perplexos um com o outro. Nós não concordávamos em muita coisa e, claro que as pessoas são contraditórias, mas enxergar as próprias contradições é impactante.
Mas o outro disse:
- Que impactante, que nada. Você já sabia, disso tudo.
- Eu não.
- Sabia sim.
- Eu não sabia de nada. É você que já sabia. Eu fiquei sabendo agora.
- Sim. Mas você sou eu.
Foi aí que eu descobri que tinha coisas que eu sabia e não sabia ao mesmo tempo. E que na verdade, era uma ignorância muito grande achar que eu era sempre inocente. Ou seja, passei a entender que chegar atrasado, por exemplo, não era necessariamente obra do acaso. Muitas vezes, o outro eu, com quem eu não conversava tanto, já sabia que eu ia me atrasar. Porque eu queria me atrasar. Mas ao mesmo tempo não queria. Então, era possível que dentro de mim co-existissem duas opiniões, de fato contraditórias. E que, de alguma forma, eu escolhia qual delas eu ia manter visível pra mim mesmo. Se alguém me perguntasse eu diria com convicção que não tinha intenção alguma de me atrasar.
- Você queria ficar mais tempo na internet, vamos, confesse!
- Não, não!!
- Queria sim!
- Mas eu queria chegar na hora!
- Confessa logo, o papo estava bom e você não quis olhar no relógio!
- Eu queria chegar na hora, você é que queria se atrasar!
- Certo, certo. Eu admito isso. Mas você, meu caro, sou eu.
- Eu nunca sei se eu fico feliz ou irritado quando você diz isso.
- Sabe sim.
- Chega!!
Passei a discutir mais comigo mesmo, tentando antecipar a visão sobre as minhas intenções ocultas a mim. E ao discutir comigo, surgiu outro problema: eu sempre tinha razão e ao mesmo tempo nunca tinha. Em compensação, eu comecei a ficar mais matreiro:
- Eu sei que você sabe que eu sei, que você sabe que eu sei o que eu sei.
- Certo, certo. Mas isso não interessa.
- Ah, não?
- Claro que não. O que interessa é o que você vai fazer com o que você sabe.
- Pois é. Tens razão. Mas isso eu ainda não sei.
- É, isso eu já sabia.
Essa mania de já saber tudo e não saber de nada me dava nos nervos. Ou não.
- Eu sei o que você está pensando.
- Claro que sabe. Você sou eu. Será que eu sempre tenho que te lembrar isso?
- Não me enrola. To te sacando, cara.
- Como é??
- É isso aí. To te sacando, cara.
- Ora, cale-se.
- Não muda de assunto não. Eu já te saquei.
- Pronto. Endoidou de vez.

Friday, October 12, 2007

Pássaro

Quando retumbava no céu
o canto repetido,

o ar era o pássaro.

pássaro

Mas distraído,
senti que passavam ao léu,
vistas do alto do monte.

E ao raiar o dia,
era um salto!!

Por sobre a linha do horizonte.

Passareavam as sinfonias das manhãs,
e as vistas amanheciam sãs.