Ele sempre tinha reações inesperadamente autênticas.
- Será que o senhor poderia me dar uma informação...
- Não.
Só depois de dizer mais algumas palavras sobre a informação que queriam é que as pessoas entendiam, e assimilando a primeira resposta, confusas, perguntavam:
- Não?
Ao que ele confirmava:
- Não.
Já acostumado com a confusão mental que causava a resposta, ele acrescentava:
- Estou dizendo que não posso lhe dar a informação... Não que você vá ficar sem ela. Você pode perguntar pra outra pessoa.
Teve alguns problemas na escola. Dele saíam respostas obscuras, revolucionárias, infames, desconexas e, algumas vezes, triviais. Ou tudo isso junto:
- A professora me pergunta quando morreu Tiradentes. Pois eu, professora, lhe pergunto quando ele nasceu, onde foi criado e se foi feliz.
Quando chegou a época de fazer vestibular, alguns amigos sustentavam a idéia de que suas respostas alternavam entre sarcásticas e sérias. Outros diziam que era impossível distinguir.
- Vai fazer vestibular pra que?
- Pra testar a minha inteligência. Inclusive, sonhei com isso ontem.
Ele sempre parava para explicar a quem fosse mais insistente que, o que ele queria mesmo era passar pra Psicologia. E depois, é claro, queria conseguir transferência para Sociologia ou Engenharia Civil. Quando percebia a confusão instalada na expressão das pessoas, ele dizia:
- É que assim eu sei que vai ser divertido. Mesmo.
Anos depois, numa entrevista de emprego, seu entrevistador faz a primeira pergunta padrão:
- Por que o senhor quer este emprego?
- Sabe, você tem razão. Pra quê? E talvez você devesse repensar isso também. Você não me parece muito feliz.
Na fila do banco, quando chegava a vez dele, dizia alguma coisa à moça do caixa e voltava pro final da fila. Depois de umas duas horas, foi abordado pelo segurança:
- Com licença... o senhor não pode ficar aqui...
- O senhor é que não pode, esta fila é para clientes.
Levado pelo braço, na porta ele grita para a moça do caixa:
- Amanhã eu volto pra conversarmos com mais calma!!
A vertente dos amigos que considerava suas respostas oscilantes entre sarcásticas e sérias, não teve dúvidas. Aquilo era um gesto romântico. A vertente que dizia ser impossível distinguir entre uma coisa e outra, resolveu concordar. Afinal, era isso ou ser obrigado a classificar o caso como patológico.
No dia seguinte ele estava lá, cumprimentou o segurança e pediu desculpas. Não pela conduta pouco convencional, é claro. O motivo da retratação era ter pressuposto que o segurança não era cliente do banco. Dito isso, voltou pra fila, conseguiu o telefone da moça. Não o número, o aparelho. Disse que precisava muito ligar pra ele mesmo, de outro celular. Mais à noite, depois do serviço, ela atende ao telefone e ele vai logo dizendo:
- Estou retornando a minha ligação. Eu gostaria de falar comigo. Mas eu ainda não estou aí, eu sei. Onde você está?
Depois de vê-lo com a namorada, uns estavam certos de que ele era um romântico incompreendido, outros diziam que ele era só louco mesmo, outros afirmavam que suas reações eram excêntricas e que ele não tinha mudado nada desde a época do vestibular.
A namorada era simpática, um tanto reservada, parecia não se incomodar com o jeito dele e não comentava nada durante as conversas em que tentavam decifrá-lo. Todo aquele silêncio da moça do caixa só tornava o assunto mais intrigante e deixava os amigos sem jeito de perguntar o que ela pensava afinal. Até o dia em que alguém tomou coragem pra tentar satisfazer a curiosidade do pessoal:
- Escuta, posso te fazer uma pergunta?
E a moça:
- Não.
- Será que o senhor poderia me dar uma informação...
- Não.
Só depois de dizer mais algumas palavras sobre a informação que queriam é que as pessoas entendiam, e assimilando a primeira resposta, confusas, perguntavam:
- Não?
Ao que ele confirmava:
- Não.
Já acostumado com a confusão mental que causava a resposta, ele acrescentava:
- Estou dizendo que não posso lhe dar a informação... Não que você vá ficar sem ela. Você pode perguntar pra outra pessoa.
Teve alguns problemas na escola. Dele saíam respostas obscuras, revolucionárias, infames, desconexas e, algumas vezes, triviais. Ou tudo isso junto:
- A professora me pergunta quando morreu Tiradentes. Pois eu, professora, lhe pergunto quando ele nasceu, onde foi criado e se foi feliz.
Quando chegou a época de fazer vestibular, alguns amigos sustentavam a idéia de que suas respostas alternavam entre sarcásticas e sérias. Outros diziam que era impossível distinguir.
- Vai fazer vestibular pra que?
- Pra testar a minha inteligência. Inclusive, sonhei com isso ontem.
Ele sempre parava para explicar a quem fosse mais insistente que, o que ele queria mesmo era passar pra Psicologia. E depois, é claro, queria conseguir transferência para Sociologia ou Engenharia Civil. Quando percebia a confusão instalada na expressão das pessoas, ele dizia:
- É que assim eu sei que vai ser divertido. Mesmo.
Anos depois, numa entrevista de emprego, seu entrevistador faz a primeira pergunta padrão:
- Por que o senhor quer este emprego?
- Sabe, você tem razão. Pra quê? E talvez você devesse repensar isso também. Você não me parece muito feliz.
Na fila do banco, quando chegava a vez dele, dizia alguma coisa à moça do caixa e voltava pro final da fila. Depois de umas duas horas, foi abordado pelo segurança:
- Com licença... o senhor não pode ficar aqui...
- O senhor é que não pode, esta fila é para clientes.
Levado pelo braço, na porta ele grita para a moça do caixa:
- Amanhã eu volto pra conversarmos com mais calma!!
A vertente dos amigos que considerava suas respostas oscilantes entre sarcásticas e sérias, não teve dúvidas. Aquilo era um gesto romântico. A vertente que dizia ser impossível distinguir entre uma coisa e outra, resolveu concordar. Afinal, era isso ou ser obrigado a classificar o caso como patológico.
No dia seguinte ele estava lá, cumprimentou o segurança e pediu desculpas. Não pela conduta pouco convencional, é claro. O motivo da retratação era ter pressuposto que o segurança não era cliente do banco. Dito isso, voltou pra fila, conseguiu o telefone da moça. Não o número, o aparelho. Disse que precisava muito ligar pra ele mesmo, de outro celular. Mais à noite, depois do serviço, ela atende ao telefone e ele vai logo dizendo:
- Estou retornando a minha ligação. Eu gostaria de falar comigo. Mas eu ainda não estou aí, eu sei. Onde você está?
Depois de vê-lo com a namorada, uns estavam certos de que ele era um romântico incompreendido, outros diziam que ele era só louco mesmo, outros afirmavam que suas reações eram excêntricas e que ele não tinha mudado nada desde a época do vestibular.
A namorada era simpática, um tanto reservada, parecia não se incomodar com o jeito dele e não comentava nada durante as conversas em que tentavam decifrá-lo. Todo aquele silêncio da moça do caixa só tornava o assunto mais intrigante e deixava os amigos sem jeito de perguntar o que ela pensava afinal. Até o dia em que alguém tomou coragem pra tentar satisfazer a curiosidade do pessoal:
- Escuta, posso te fazer uma pergunta?
E a moça:
- Não.