Estranhamente, tenho procurado muitas respostas para minhas perguntas no dicionário. E o que é mais estranho, tenho encontrado respostas interessantes, até certo ponto satisfatórias. Claro que antes de encontrar definições relevantes, você se arrisca a procurar por “reverberação” e se deparar com “ato ou efeito de reverberar”, ou “revérbero”. Tudo bem se você já conhecia uma palavra ou outra, mas imagine um garoto de uns oito anos, procurando por “abdicatório”. Em “abdicatório” você encontra com “abdicativo”. Sobre “abdicativo”, tem: “concernente à abdicação, abdicatório”. “Que motiva ou envolve abdicação”. Não seria exagero dizer que no momento em que o garoto lê “concernente”, seguido de “abdicação”, ele abdica da busca pelo conhecimento no que concerne a palavras num dicionário. Mas o fato é que não é só um livro um pouco inadequado para crianças. Nele, você descobre a sua completa ignorância sobre palavras que você nunca nem sequer ouviu falar. Algumas palavras são tão incógnitas que você as lê como um “x”, ou seja, um dicionário pode te fazer de bobo só com orações subordinadas, que acabam por ser as únicas palavras que você realmente entende, como “relativo à”, “referente à”, “ato ou efeito de”, “que, ou aquele que”, “ação pela qual”, etc.
No caso das palavras de baixo calão, a tendência é que você aprenda tudo antes de abrir o dicionário. Mas isso não significa que você aprendeu tudo, ou que o dicionário não tenha nada mais o que te ensinar. Veja por exemplo, com o perdão da palavra, o “cu”. Começa com uma definição simples, bastante científica e formal. Algo discreto. “Ânus”. Soa quase como uma repreensão. Como se alguém estivesse te corrigindo, dizendo que não é “cu”. É “ânus”. No entanto, e para a minha surpresa, o significado seguinte de “cu” é o “fundo da agulha onde se acha o orifício”. O fundo, sim, da agulha. Onde se acha, por sua vez, o orifício. Fiquei realmente impressionado ao saber dessa denominação tão específica, mas é bem verdade que aquele buraquinho da agulha é às vezes tão irritante que até merece o nome. Ainda assim, imagine o que não se sofre com a ignorância nossa de cada dia, se uma costureira te entrega linha e agulha e pede pra você enfiar no “cu”. E acrescenta educadamente: “por favor”.
Na terceira significação, tem as tradicionais nádegas. Ou seja, depois de toda aquela especificidade, o termo passa a ter um caráter mais genérico, designando não só o orifício mas também as suas redondezas. E quando pensei que não havia mais como me surpreender com um livro que deveria ser só uma fonte de pesquisa, resolvi olhar o significado de nádega. Conforme consta, as nádegas são “a parte carnosa superior e traseira das coxas.” Até aí tudo bem, porque as nádegas, mesmo num livro formal e "científico" como o dicionário, não deixam de ser nádegas. Nádegas são nádegas. Alguém te diz que são a parte carnosa superior e traseira das coxas e você age naturalmente. Ou quase. Mas na seqüência, descrevem-nas como “a parte carnuda, por baixo e atrás da garupa das cavalgaduras”. Ou seja, a partir daqui não há mais direção, a civilidade perde o sentido. Depois de “garupa das cavalgaduras” só nos resta a volúpia e a entrega às paixões primitivas. Salve-se quem puder.
O dicionário é também um guia diplomático. Nele você aprende a diferenciar “bernes”, que são larvas de inseto, de “bernenses”, que são suíços. Além disso, é notável que os sufixos não são um recurso seguro, já que golfada não tem qualquer ligação com partida de golfe. A não ser é claro, que um jogador esteja passando mal:
- Esses bernes não sabem o que comem!! – reclamou Sr. Argantes, logo após a segunda golfada.
O mordomo, que o ajudava a se recompor e a se assear, corrigiu:
- Com o perdão da intransigência senhor, os “bernenses” não sabiam da sua alergia a laticínios. Quanto aos “bernes”, creio que eles não se importam, senhor.
Outras pesquisas passam a impressão de serem tão inúteis que é quase como se o próprio Aurélio estivesse ali, pessoalmente curtindo com a sua cara. Um exemplo disso é “jurubebal”, que significa “moita de jurubebas”.
Não sabe o que são jurubebas? Olha no dicionário.
No caso das palavras de baixo calão, a tendência é que você aprenda tudo antes de abrir o dicionário. Mas isso não significa que você aprendeu tudo, ou que o dicionário não tenha nada mais o que te ensinar. Veja por exemplo, com o perdão da palavra, o “cu”. Começa com uma definição simples, bastante científica e formal. Algo discreto. “Ânus”. Soa quase como uma repreensão. Como se alguém estivesse te corrigindo, dizendo que não é “cu”. É “ânus”. No entanto, e para a minha surpresa, o significado seguinte de “cu” é o “fundo da agulha onde se acha o orifício”. O fundo, sim, da agulha. Onde se acha, por sua vez, o orifício. Fiquei realmente impressionado ao saber dessa denominação tão específica, mas é bem verdade que aquele buraquinho da agulha é às vezes tão irritante que até merece o nome. Ainda assim, imagine o que não se sofre com a ignorância nossa de cada dia, se uma costureira te entrega linha e agulha e pede pra você enfiar no “cu”. E acrescenta educadamente: “por favor”.
Na terceira significação, tem as tradicionais nádegas. Ou seja, depois de toda aquela especificidade, o termo passa a ter um caráter mais genérico, designando não só o orifício mas também as suas redondezas. E quando pensei que não havia mais como me surpreender com um livro que deveria ser só uma fonte de pesquisa, resolvi olhar o significado de nádega. Conforme consta, as nádegas são “a parte carnosa superior e traseira das coxas.” Até aí tudo bem, porque as nádegas, mesmo num livro formal e "científico" como o dicionário, não deixam de ser nádegas. Nádegas são nádegas. Alguém te diz que são a parte carnosa superior e traseira das coxas e você age naturalmente. Ou quase. Mas na seqüência, descrevem-nas como “a parte carnuda, por baixo e atrás da garupa das cavalgaduras”. Ou seja, a partir daqui não há mais direção, a civilidade perde o sentido. Depois de “garupa das cavalgaduras” só nos resta a volúpia e a entrega às paixões primitivas. Salve-se quem puder.
O dicionário é também um guia diplomático. Nele você aprende a diferenciar “bernes”, que são larvas de inseto, de “bernenses”, que são suíços. Além disso, é notável que os sufixos não são um recurso seguro, já que golfada não tem qualquer ligação com partida de golfe. A não ser é claro, que um jogador esteja passando mal:
- Esses bernes não sabem o que comem!! – reclamou Sr. Argantes, logo após a segunda golfada.
O mordomo, que o ajudava a se recompor e a se assear, corrigiu:
- Com o perdão da intransigência senhor, os “bernenses” não sabiam da sua alergia a laticínios. Quanto aos “bernes”, creio que eles não se importam, senhor.
Outras pesquisas passam a impressão de serem tão inúteis que é quase como se o próprio Aurélio estivesse ali, pessoalmente curtindo com a sua cara. Um exemplo disso é “jurubebal”, que significa “moita de jurubebas”.
Não sabe o que são jurubebas? Olha no dicionário.